5 de agosto de 2014

Ouro olímpico de Joaquim Cruz completa 30 anos


Após três décadas, o título continua inédito no país, e o atleta proporciona a jovens carentes a oportunidade de praticar o esporte que transformou a sua vida


6 de agosto de 1984. O dia que consagrou o brasileiro Joaquim Cruz foi também um momento de glória para o atletismo nacional. Quem acompanhava a final dos 800m rasos nas olimpíadas de Los Angeles vibrou com a arrancada de Joaquim, que na última curva saiu do terceiro lugar e abriu uma vantagem de cinco metros à frente do segundo colocado e recordista na prova, Sebastian Coe.

O Brasil não ganhava uma medalha de ouro no atletismo desde a conquista de Adhemar Ferreira da Silva, em 1956. E ao cruzar a linha de chegada no Memorial Coliseum, Cruz entrou para a história não só por alcançar o lugar mais alto do pódio. Com o tempo de 1m43s, ele bateu o recorde olímpico, que só foi superado doze anos depois, em Atlanta. E conquistou também um título até hoje inédito: foi o primeiro e único brasileiro a ganhar medalha de ouro em prova de pista nos jogos olímpicos.

Aos 21 anos, o atleta cumpriu o que havia profetizado ao escrever num antigo diário que, em sua primeira olimpíada, iria para vencer e não apenas para competir. E as palavras de Joaquim tiveram força para mudar também outras histórias. Em 1999, Cruz trouxe uma mala cheia de tênis para distribuir a atletas que iriam participar de uma corrida de rua no Maranhão. A bagagem ficou retida na alfândega porque o agente da Receita Federal desconfiou que os calçados seriam comercializados.

Desfeito o mal entendido, Cruz foi perguntado se o episódio inibiria a iniciativa de trazer os pares de tênis. E a resposta de Joaquim traçou o destino de outros jovens: Da próxima vez vou trazer o dobro e fundar o Clube dos DescalSOS. Em 2003, nasceu o Instituto Joaquim Cruz (IJC), para estruturar as ações do projeto social Clube dos DescalSOS/Caixa.

Inspirados pela trajetória do campeão olímpico que nasceu em Taguatinga e corria descalço pelas ruas parques da região, 120 crianças e jovens carentes treinam atletismo em pistas localizadas em duas cidades satélites e no entorno do Distrito Federal. Eles recebem orientação esportiva e cidadã, uniforme, complemento alimentar e participam de competições. Joaquim sabe que muitos ali não vão seguir carreira no atletismo, mas terão a oportunidade de aproveitar outras portas abertas pelo esporte.

O que um garoto pode conseguir com o esporte é gigante. Ele ganha saúde, conhecimentos, experiências. Com 15 anos, tive oportunidade de ver a Monalisa, de conhecer muitos países. Como conseguiria fazer sem o esporte?  Em visita recente feita ao Clube dos Descalsos/Caixa, Joaquim incentivou os integrantes e ressaltou que tem muito em comum com todos eles: Eu também saí de um lugar humilde. E daqui podem surgir grandes campeões. O primeiro e mais importante passo é sonhar. E sonhar é de graça.



Os passos de Joaquim motivaram também a criação do segundo projeto no IJC, o Programa Rumo ao Pódio Olímpico (PRPO), cuja meta já vem traçada no nome.  Com apenas dois anos de funcionamento, o PRPO já apresenta resultados expressivos, como o título de vice-campeão sulamericano de um dos integrantes. Esses jovens são a continuidade do meu sonho, conclui Joaquim Cruz. Apesar de viver há 33 anos nos Estados Unidos, onde orienta atletas militares e olímpicos, é na terra natal que ele deposita o seu legado, ao semear oportunidades para que outros jovens conquistem o mundo correndo.   





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