Após três décadas, o título continua inédito no país, e o atleta
proporciona a jovens carentes a oportunidade de praticar o esporte que
transformou a sua vida
6 de agosto de 1984.
O dia que consagrou o brasileiro Joaquim Cruz foi também um momento de glória
para o atletismo nacional. Quem acompanhava a final dos 800m rasos nas
olimpíadas de Los Angeles vibrou com a arrancada de Joaquim, que na última
curva saiu do terceiro lugar e abriu uma vantagem de cinco metros à frente do segundo
colocado e recordista na prova, Sebastian Coe.
O Brasil não ganhava uma
medalha de ouro no atletismo desde a conquista de Adhemar Ferreira da Silva, em
1956. E ao cruzar a linha de chegada no Memorial Coliseum, Cruz entrou para a
história não só por alcançar o lugar mais alto do pódio. Com o tempo de 1m43s,
ele bateu o recorde olímpico, que só foi superado doze anos depois, em Atlanta.
E conquistou também um título até hoje inédito: foi o primeiro e único
brasileiro a ganhar medalha de ouro em prova de pista nos jogos olímpicos.
Aos 21 anos, o atleta
cumpriu o que havia profetizado ao escrever num antigo diário que, em sua primeira
olimpíada, iria para vencer e não apenas para competir. E as palavras de
Joaquim tiveram força para mudar também outras histórias. Em 1999, Cruz trouxe
uma mala cheia de tênis para distribuir a atletas que iriam participar de uma
corrida de rua no Maranhão. A bagagem ficou retida na alfândega porque o agente
da Receita Federal desconfiou que os calçados seriam comercializados.
Desfeito o mal
entendido, Cruz foi perguntado se o episódio inibiria a iniciativa de trazer os
pares de tênis. E a resposta de Joaquim traçou o destino de outros jovens: Da próxima vez vou trazer o dobro e fundar o
Clube dos DescalSOS. Em 2003, nasceu o Instituto Joaquim Cruz (IJC), para
estruturar as ações do projeto social Clube dos DescalSOS/Caixa.
Inspirados pela
trajetória do campeão olímpico que nasceu em Taguatinga e corria descalço pelas
ruas parques da região, 120 crianças e jovens carentes treinam atletismo em
pistas localizadas em duas cidades satélites e no entorno do Distrito Federal. Eles
recebem orientação esportiva e cidadã, uniforme, complemento alimentar e
participam de competições. Joaquim sabe que muitos ali não vão seguir carreira
no atletismo, mas terão a oportunidade de aproveitar outras portas abertas pelo
esporte.
O que um garoto pode conseguir com o esporte é gigante. Ele ganha saúde,
conhecimentos, experiências. Com 15 anos, tive oportunidade de ver a Monalisa,
de conhecer muitos países. Como conseguiria fazer sem o esporte? Em visita recente feita ao Clube dos Descalsos/Caixa,
Joaquim incentivou os integrantes e ressaltou que tem muito em comum com todos
eles: Eu também saí de um lugar humilde.
E daqui podem surgir grandes campeões. O primeiro e mais importante passo é
sonhar. E sonhar é de graça.
Os passos de Joaquim motivaram
também a criação do segundo projeto no IJC, o Programa Rumo ao Pódio Olímpico
(PRPO), cuja meta já vem traçada no nome. Com apenas dois anos de funcionamento, o PRPO
já apresenta resultados expressivos, como o título de vice-campeão sulamericano
de um dos integrantes. Esses jovens são a
continuidade do meu sonho, conclui Joaquim Cruz. Apesar de viver há 33 anos
nos Estados Unidos, onde orienta atletas militares e olímpicos, é na terra
natal que ele deposita o seu legado, ao semear oportunidades para que outros jovens
conquistem o mundo correndo.
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